Em 2008, Haroldo de Souza e Brasinha defenderam com unhas e dentes projetos que alteravam o Plano Diretor para beneficiar a Dupla Gre-Nal | Foto: Elson Sempé Pedroso/CMPA |
Felipe Prestes, em Sul21
O termo “bancada da bola” ficou consagrado para apontar os deputados federais e senadores que receberam doações de campanha da CBF e defendem os interesses da entidade no Congresso. De 2008 para cá, a Federação Gaúcha de Futebol tem trazido ao Rio Grande do Sul a ideia de doação de dinheiro para campanhas eleitorais. Em 2008, os vereadores de Porto Alegre Haroldo de Souza (PMDB) e Alceu Brasinha (PTB) receberam R$ 15 mil cada. O candidato a vereador em Canoas, não eleito, Martin Ingo Ahlert (PMDB) recebeu R$ 1,5 mil. Em 2010, o candidato a deputado federal Matteo Chiarelli (DEM) recebeu R$ 10 mil e também não se elegeu.
O Sul21 não conseguiu apurar com que objetivos a FGF fez doações de campanha e que critérios seguiu para a escolha dos candidatos. Isto porque seu presidente, Francisco Novelletto, se negou a conversar sobre o tema. Por meio de sua assessoria, ele disse estar muito ocupado com o início do Campeonato Gaúcho e que talvez em cerca de duas semanas possa falar sobre o assunto.
A FGF é a primeira entre as federações de estados importantes para o futebol brasileiro a copiar a ideia da CBF. Começou timidamente em 2002, quando o presidente ainda era Emídio Perondi, com uma doação de R$ 500 à candidata a deputada estadual Iara Wortmann (PPS). De forma sucinta, o jornalista Juca Kfouri, que passa férias em Lisboa, comentou o fato por email: “Os maus exemplos também frutificam…”.
Segundo o jornalista, a bancada nacional é formada por integrantes “sem espinha dorsal, de todos os partidos”. Ele afirma que o maior feito desta bancada foi melar a CPI do Futebol, em 2001, que já havia esclarecido boa parte das denúncias que hoje recaem sobre Ricardo Teixeira, vindas de autoridades e jornalistas europeus. Recentemente, o Congresso em Foco noticiou que vários integrantes da bancada da bola estão na comissão que analisa a Lei Geral da Copa.
Critérios pessoais, familiares e clubísticos
Em 2008, CBF doou dinheiro para candidatos em cidades como Comercinho-MG e Cocos-BA | Foto: José Cruz/ABr |
Até 2008, a CBF abasteceu campanhas não só no Congresso, mas até de candidatos a prefeito em locais inimagináveis, como, por exemplo, nos municípios de Cocos-BA, Comercinho-MG e Lagoa Grande-MG. Os critérios para a escolha dos candidatos costumam ser de ordem pessoal ou pela troca de favores, e os candidatos costumam ter ligação com o futebol, seja como cartola de algum clube ou de uma federação.
Em 2008, a Folha de São Paulo apurou que o candidato a prefeito de Cocos, Alexnaldo Correia Moreira, é afilhado político do deputado federal José Rocha, ambos do PR-BA. Rocha é um dos mais atuantes parlamentares da Bancada da Bola. A mesma reportagem mostra que o então prefeito de Piraí-RJ, Arthur Henrique Gonçalves (PMDB), que buscava a reeleição, recebeu R$ 100 mil, e que é nesta cidade que Ricardo Teixeira possui uma fazenda onde costuma descansar.
Já o candidato a prefeito de Ijuí, pelo PC do B, Junior Carlos Piaia, revelou que quem intermediou doação de R$ 50 mil da CBF para sua campanha foi Emídio Perondi, ex-presidente da FGF e ex-vice-presidente da CBF. Piaia participa da política clubística no São Luiz de Ijuí. A questão familiar também é um critério utilizado. O deputado federal Darcisio Perondi, irmão de Emídio, recebeu da CBF R$ 100 mil em 2002 e o mesmo valor em 2006. Fernando Sarney, um dos filhos do presidente do Senado, ocupa hoje a vice-presidência da CBF para a Região Norte. A família Sarney também recebe costumeiramente doações de campanha da entidade. Em 2010, no entanto, a CBF não fez doações para nenhum candidato. O jornalista Rica Perrone aponta que a bancada da bola foi abastecida por patrocinadores da confederação.
Vale ressaltar que são os clubes que elegem as diretorias de federações e que estas, por sua vez, elegem a direção da CBF. As diretorias dessas entidades costumam se perpetuar no poder. Leomar Quintanilha preside a Federação Tocantinense de Futebol (FTF) desde que a entidade foi criada, em 1991. Recebeu R$ 50 mil da CBF em duas campanhas, para senador em 2002 e governador em 2006.
As doações da FGF, que já é presidida por Novelletto há oito anos, seguiram a mesma lógica de escolher pessoas ligadas ao esporte. Alceu Brasinha é conselheiro do Grêmio e se tornou conhecido graças a um carro de som que roda Porto Alegre tocando o hino do clube. Haroldo de Souza é jornalista esportivo. Martin Ingo Ahlert é conselheiro do Internacional e Matteo Chiarelli tem atuação destacada na política do Esporte Clube Pelotas.
Ex-deputados como Silvio Torres (PSDB-SP), que presidiu a CPI da Nike, e Jair Meneguelli (PT-SP) já tentaram barrar as doações feitas por entidades esportivas. Em 2009, Torres conseguiu aprovar na Câmara uma emenda proibindo as doações, que foi melada no Senado por Eduardo Azeredo (PSDB-MG) e Marco Maciel (DEM-PE).
Bancada não é da bola, mas do cartola, diz torcedor
Para o presidente da Frente Nacional dos Torcedores (FNT), João Marques, a imprensa consagrou um nome errado para a bancada da bola. “A gente entende que a denominação deveria ser bancada do cartola, e não bancada da bola. Da bola seria se o Sócrates fosse deputado. O Novelletto nunca deve ter chutado uma bola. Nem deve torcer, de fato, para algum time”, afirma.
"O Novelletto nunca deve ter chutado uma bola", afirma presidente da Frente Nacional dos Torcedores | Foto: Gabriel Bernardo/Fazendo Média |
Marques diz que a lógica das doações de campanha por federações é a do sistema eleitoral de financiamento privado em geral. “Nosso sistema partidário não nos representa mais. O que temos hoje, por exemplo, são empresários de ônibus que bancam vereadores, que financiam prefeitos. Depois, em todo o país há aumentos de passagens abusivos. O presidente da Federação cuida dela como se fosse uma empresa. O papel dos empresários é se salvaguardar no Legislativo e no Executivo”, diz.
Torcedor do Grêmio, Marques afirma que estas doações não visam eleger deputados que elevem trabalhem pelo esporte. “O próprio fato de a Federação apoiar um ou dois candidatos sem conversar com o torcedor, já mostra que tem algo de errado nisto, é um indicativo de que isto não cheira bem. Aliás, não conheço nenhum projeto de lei destes citados vereadores no sentido de democratizar o esporte, de levá-lo para comunidades carentes”.
O presidente da FNT diz que o papel da política para o esporte no país é, em geral, o de fomentar as atividades de alto rendimento, que seguem a lógica empresarial. “Não atende aos interesses do esporte. Não há políticas esportivas para a população. O esporte não é utilizado na base da educação. Só há amparo ao esporte de alto rendimento. Este apoio não é ao esporte”.
Marques ressalta que a FNT propõe uma PEC, que deve começar a tramitar neste ano por meio do deputado federal Fernando Ferro (PT-PE), para regulamentar a atividade econômica do esporte. “O Estado tem que fazer intervenções fortes, no sentido de democratizar, de ter mais transparência, menos elitização, não só no futebol, como em todos os esportes”, opina.
Candidatos ressaltam que as doações são legais, mas um deles se irrita
Futebol e política se misturam: Brasinha se enrola na bandeira do Grêmio no plenário da Câmara | Foto: Carolina de Fé/CMPA |
O vereador Alceu Brasinha e o candidato derrotado em 2010 Matteo Chiarelli ressaltam a legalidade das doações. “Desde que seja legal, declarado, não vejo mal nenhum”, opina o primeiro. “É uma questão legal, não de opinião. Quem tem que discutir é o Congresso. O financiamento no país é privado. A lei estabelece quem pode e quem não pode doar, e os limites”, diz o segundo.
Já o vereador Haroldo de Souza ficou extremamente irritado com a menção ao tema. Ao ser perguntado a respeito da doação, devolveu a pergunta, querendo saber a opinião do repórter. Não sendo atendido, disse que “então, eu também não acho nada”. O Sul21 tentou localizar Martin Ingo Ahlert, sem sucesso.
A reportagem também quis saber a opinião do deputado estadual Alexandre Lindenmeyer (PT), que não recebeu doações, mas é ligado ao futebol, tendo presidido o Sport Club Rio Grande. O parlamentar diz que considera normal que a FGF doe dinheiro para quem milita pelas causas do esporte. Entretanto, questiona os critérios que foram utilizados para escolher os candidatos.
“O critério é passível de ser discutido. Em situações futuras, deveria se elencar todos os candidatos que militam pelo esporte e fazer uma distribuição diluída, com valores menores para todos”, sugere, não descartando que fosse um dos contemplados, embora ressalte que sua campanha foi a mais barata entre todos os deputados estaduais eleitos. “Minha campanha foi feita com pouco mais de R$ 60 mil, a mais barata entre os eleitos. Mais do que dinheiro, o que vale é a história da gente. Qualquer outro abnegado pela causa do esporte, talvez mereça em uma eleição futura”.
Lindenmeyer também questiona se as doações foram debatidas por toda a diretoria. “Se houve amplo debate interno entre os dirigentes da Federação, que foram eleitos pelos clubes, isto se torna legítimo. A direção é eleita pelos clubes, ela tem poder discricionário para isto”, diz.
Os candidatos não sabem explicar de que forma a doação foi articulada. Ambos ressaltam que isto é feito pelos coordenadores de campanha. Brasinha sugere que sua candidatura pediu a verba para a FGF. “A gente pede para as pessoas ajudarem”, diz. Matteo Chiarelli diz que quem coordenou financeiramente sua campanha foi Flavio Gastaud, que já presidiu o Esporte Clube Pelotas em cinco oportunidades, e que quem deve falar sobre os critérios para doações é a própria FGF. “Tem que perguntar para a Federação. O doador que acha que o candidato tem um projeto que está afinado com sua visão de mundo faz a doação”, diz.
Alguns indícios demonstram que as doações da FGF, se não foram escolhas pessoais do presidente Novelletto, contam ao menos com o apoio declarado do dirigente. Matteo Chiarelli, por exemplo, recebeu também R$ 10 mil da Multisom, loja de instrumentos musicais e eletrônicos, cujo proprietário é o mesmo Francisco Novelletto. A Multisom também já fez doações a outros políticos ligados ao esporte, como João Bosco Vaz e Darcísio Perondi.
Vereadores demonstraram empenho por concessão de terreno
O cidadão comum não pode, mas Novelletto sentou na Mesa Diretora quando foi aprovada doação de terreno para a FGF | Foto: Elson Sempé Pedroso/CMPA |
Os legisladores contemplados pela FGF não conseguiram aprovar na Câmara nenhum projeto significativo de sua autoria para fomentar diretamente o esporte em Porto Alegre. Na vereança desde 2001, Haroldo de Souza concedeu em 2003 o título de cidadão emérito a Francisco Novelletto. Também concedeu títulos semelhantes a Ronaldinho Gaúcho, ao ex-presidente do Internacional Fernando Carvalho e ao jornalista esportivo Luiz Carlos Reche. Além disto, instituiu o Dia do Atleta Paraolímpico.
Brasinha, por sua vez, é vereador desde 2005. Em 2011, ele fez projeto que reduzia a exagerada execução dos hinos Rio-Grandense e Nacional em partidas de futebol. Em 2008, apresentou projeto que proibiu a cobrança para uso do banheiro em estádios, terminais rodoviários e metroviários e outros espaços públicos. Em 2005, apresentou projeto que permitia a colocação de publicidade em áreas públicas para a prática do esporte.
Ambos demonstraram empenho na aprovação de um projeto enviado pelo Executivo municipal que previa a concessão de uma área nobre de 10 mil m², em frente ao Guaíba, para a construção da nova sede da FGF. Como contrapartida, a Federação tem que usar metade da área para construir o Memorial Luis Carlos Prestes, com projeto arquitetônico de Oscar Niemeyer, cuja construção no local já estava prevista em lei municipal desde 1990 e nunca saíra do papel.
A ideia de tirar do papel um monumento para um ícone da esquerda e, ao mesmo tempo, fazer média com a Federação que comanda o esporte mais popular do país no RS, acabou unindo anseios de quase todos os vereadores. O projeto foi aprovado no dia 6 de maio de 2009, por 28 a 1. Pelas notas taquigráficas, é possível verificar que louvações a Novelletto foram feitas por vereadores de todos os espectros políticos. O presidente da FGF assistiu à sessão e chegou a sentar na Mesa Diretora, como mostra uma fotografia.
Uma fala do vereador Nilo Santos (PTB) durante a sessão demonstra o especial empenho de Alceu Brasinha em aprovar a cedência do terreno. Santos sugere que o colega de partido atuou de forma intensa no convencimento de outros vereadores. “Venho encaminhar em nome da bancada do Partido Trabalhista Brasileiro, até em homenagem ao vereador Brasinha, que está, desde cedo, pleiteando pela aprovação deste projeto”.
O próprio Brasinha demonstrou ansiedade, quando o então líder de Governo, Valter Nagelstein (PMDB), quis adiar a votação do projeto. “Eu venho a esta tribuna dizer que realmente não gostaria que fosse adiado. Gostaria que este Projeto fosse votado hoje, vereador Valter Nagelstein. Por que eu sou contra o adiamento da discussão por mais uma vez? Quero que seja votado hoje, porque, para tudo se tem pressa, e como já temos conhecimento sobre este projeto que já foi discutido por duas sessões, já estamos prontos para votá-lo”, disse.
Foto: Elson Sempé Pedroso/CMPA |
Em seguida, Brasinha disse que a Copa do Mundo seria um motivo pelo qual a FGF precisa rapidamente de uma sede nova. Faltavam mais de cinco anos para o torneio. “Quero dizer ao vereador Valter que jamais discordaria dele, e em todas as vezes que falamos, eu concordei com ele. Mas desta vez eu discordo, quero que seja votado hoje, e, se possível, rapidamente para sairmos deste projeto. E a Federação Gaúcha de Futebol precisa de rapidez, porque a Copa do Mundo vem aí, e nós precisamos cada vez evoluir mais, avançar mais. Se nós dificultarmos, cada vez será pior. Então, vamos votar hoje este projeto”.
O vereador Haroldo de Souza foi, entre todos os vereadores, o que fez a fala mais extensa em tribuna sobre a FGF durante a sessão. “Eu venho aqui para falar de uma ajuda que a própria Federação Gaúcha de Futebol está dando para a construção do Memorial Prestes, que estava parado e sem condições de ser erguido, de ser movimentado e de entrar em funcionamento. Então a Federação Gaúcha de Futebol é quem merece todo o nosso respeito, eu milito dentro do futebol e reconheço a representatividade que nós temos com o Grêmio e o Internacional no cenário nacional e internacional. Isso já abaliza a construção de uma moderna sede para a Federação Gaúcha de Futebol”, disse.
Haroldo de Souza também saiu em defesa da votação do projeto naquele dia, sempre ressaltando que não havia motivo para discutir a concessão. “Eu não achava, confesso para vocês, que este projeto fosse dar tanta celeuma e tanta discussão, porque eu não vejo, absolutamente, nada de errado aqui neste projeto, nem o seu adiamento para uma outra eleição e muito menos dizer não a este projeto. Com que justificativas? De que forma eu iria justificar um voto “não”, contrário aos interesses da Federação Gaúcha de Futebol, que é a entidade mater desses dois Clubes (Grêmio e Internacional), que dão o leitinho para as crianças lá de casa – no sentido figurado, evidentemente?”, disse, em certo trecho. Em outra passagem manifestou seu contentamento pela possível aprovação. “Como é gostoso e dá orgulho sabermos que a Federação Gaúcha de Futebol terá a sua casa moderna, em plenas condições de representar o povo do Rio Grande do Sul!”
Ele finalizou seu discurso em tribuna lamentando que houvesse discussão sobre a cedência do terreno. “É evidente que vamos votar pela aprovação do projeto, lamentando que haja tanta discussão, e nós com outros projetos aí na frente para votar. Tanta discussão num projeto que, para mim, não haveria nenhum problema. Claro que pela aprovação!”
O próprio Haroldo de Souza, contudo, discordou do argumento inusitado dado por Brasinha para que a votação não fosse adiada. “Não tem nada a ver a sede da Federação Gaúcha com a Copa do Mundo; eu não concordo com quem chega aqui e diz isso. Não. O que é a sede? Eu já fiz dez Copas do Mundo e não conheço nenhuma sede de federação, nacional ou de entidade estadual, dos países onde estive”.
Datas de doações (eleitoral e de terreno) coincidem
O prefeito em exercício Eliseu Santos (PTB) enviou o projeto para a Câmara dos Vereadores no dia 18 de setembro de 2008 — bem no meio da eleição municipal, portanto. As doações de campanha foram feitas nos mesmos dias para os dois candidatos por transferência eletrônica em três parcelas de R$ 5 mil. A primeira delas foi no dia 21 de julho de 2008, apenas cinco dias depois de uma audiência entre o prefeito José Fogaça e o presidente da FGF, Francisco Novelletto – registrada pela agenda do prefeito no site da Prefeitura – cujo tema é uma das perguntas a serem feitas quando o mandatário da entidade falar.
As outras duas foram nos dias 14 de agosto e 15 de setembro (três dias depois, Eliseu, colega de partido de Brasinha enviou o projeto à Câmara). Todo o trâmite do projeto na Câmara se deu logo em seguida às doações feitas pela FGF, acabando só alguns meses depois, no início de maio de 2009. Depois desta constatação, oSul21 procurou várias vezes Alceu Brasinha, sendo sempre atendido por assessores. Ele não retornou as ligações. Haroldo de Souza desligou o telefone na cara da reportagem antes que fosse abordado este fato.
Terreno foi utilizado como estacionamento
No último dia 7 de dezembro, o Blog do Prévidi denunciou que a FGF estava usando o terreno como estacionamento pago. Dias depois, o jornal Metro fez uma reportagem na qual constatou que a Smic não autorizara a atividade. Mais de dois anos depois, nem o memorial, nem a sede da FGF haviam saído papel e ainda havia uma atividade econômica irregular no local.
No último dia 7 de dezembro, o Blog do Prévidi denunciou que a FGF estava usando o terreno como estacionamento pago. Dias depois, o jornal Metro fez uma reportagem na qual constatou que a Smic não autorizara a atividade. Mais de dois anos depois, nem o memorial, nem a sede da FGF haviam saído papel e ainda havia uma atividade econômica irregular no local.
Ao Metro, o presidente da entidade disse que havia feito um acordo com a diretoria do Foro de Porto Alegre, que é próximo à área, para ceder 200 vagas de estacionamento. Ele admitiu que cobrava R$ 2 por outras 50 vagas, justificando que a Prefeitura demorava em liberar licenças para início das obras e que estava gastando dinheiro para expulsar pessoas que invadiam o terreno.
A notícia gerou uma ação de fiscalização da Smic, e só. Matéria no site da Câmara dos Vereadores deixa claro que “se for dada ao imóvel destinação diferente daquela prevista pela Lei, a concessão de uso poderá ser rescindida independentemente de ato especial e sem direito à indenização de qualquer espécie”. O fato, entretanto, não sensibilizou os vereadores Haroldo de Souza e Alceu Brasinha — como não mobilizou nenhum outro vereador.
Em uma matéria sobre Ricardo Teixeira feita pelo Sul21 em 2010, Juca Kfouri assim definiu a relação entre políticos e cartolas: “Fico me perguntando como em 20 anos, com políticos esclarecidos como Fernando Henrique e Lula já tendo passado pela presidência, dirigentes como Ricardo Teixeira permanecem tendo o poder que tem. Acho que o poder que a cartolagem do esporte exerce é o da sedução. Fazem coisas erradas, mas depois colocam uma estrela do esporte na mesa com o político, levam atletas para Brasília. Um homem como o Lula, que comprou a briga do Estatuto do Torcedor, tempos depois estava no Haiti com a seleção”.
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