Flávio Aguiar
3 de outubro é a data comemorativa da reunificação das Alemanhas divididas no pós-guerra. Há exatos 21 anos houve essa junção, ou, como muitos dizem, a anexação da Alemanha Oriental pela Ocidental, depois da derrota da União Soviética e a derrocada dos regimes comunistas no leste europeu.
A reunificação, portanto, seria um processo ainda em curso, e que levará anos e gerações. De qualquer modo, 3 de outubro é um dia de festa na Alemanha e particularmente em Berlim, a cidade destruída pela guerra e depois fraturada pelo Muro, esse grande equívoco histórico do regime comunista.
Seja como for, há um dado interessante a ser lembrado. A primeira Alemanha a se constituir legalmente foi a Ocidental. A criação da Alemanha Oriental foi uma reposta a este gesto “separatista”, ambas gestadas ainda na década de 40.
A primeira proposta séria de reunificação das Alemanhas partiu de quem? Do camarada Koba, aliás, Josef Stalin, imaginem! (Ossip Koba era o nome de guerra do camarada nos tempos de clandestinidade no Partido Comunista). Foi feita num documento chamado de “Nota de Março”, em 1952, através do chanceler Andrei Gromyko. Stain propunha às potências ocidentais a criação de uma só Alemanha, unificada e desmilitarizada.
Ao longo do ano a proposta acabou rejeitada, à luz da doutrina mantida, sobretudo, pelos Estados Unidos a partir de um documento identificado pela sigla NSCR 68 (National Security Council Report 68), de 1950 (ainda ao tempo de Truman como presidente), mas também à luz do medo atávico da França e da Inglaterra de uma Alemanha unida. Também colaborou para a rejeição a avaliação de que uma Alemanha unificada, desmilitarizada e neutra na Guerra Fria que já galopava pelo mundo acabaria sendo inevitavelmente atraída para a órbita soviética.
A proposta de Stalin colocou a política norte-americana diante de um dilema. A primeira face do dilema era a de que ele poderia estar fazendo uma mera jogada para a platéia mundial, e assim encurralar os Estados Unidos num canto do ringue, além de caracteriza-los como “inimigos eternos” da unidade alemã. Stalin propunha uma Alemanha, livre, com liberdade de imprensa, pluripartidarismo (!), eleições livres, liberdade religiosa, etc. Também propunha que um ano depois da adoção da proposta as potências vencedoras da Segunda Guerra (o Brasil também foi um vencedor da Segunda Guerra, mas não era uma potência...) deveriam retirar seus exércitos do território alemão. Além disso, a Alemanha deveria ter acesso irrestrito ao mercado internacional – e não deveria ter alianças militares.
A segunda face, porém, foi trazida à baila por James Warburg, banqueiro norte-americano nascido na Alemanha, num depoimento perante o senado em Washington, ainda no mês de março, logo após Gromyko ter entregado a famosa nota aos representantes das potências ocidentais. Warburg, que fora conselheiro de Roosevelt (embora se afastasse dele por causa de certas medidas do New Deal...) e era membro do Conselho de Relações Exteriores, afirmou que uma das dúvidas do governo norte-americano era a de que Stalin poderia muito bem não estar blefando ao fazer a proposta.
Isso poderia trazer muito mais incômodo para a posição norte-americana que, na época, à luz do NSCR 68, privilegiava a consolidação das posições militares ao invés da ação diplomática. A principal objeção norte-americana à proposta era a de que uma Alemanha livre deveria ter a liberdade de integrar a OTAN, cuja criação datava de 1949, e fora acelerada a partir de 1950 com a deflagração da Guerra da Coréia.
A proposta também não teve acolhida na Alemanha Ocidental (criada em maio de 1949, meses antes da criação da Alemanha Oriental, que foi uma retaliação), pois a orientação do então chanceler Konrad Adenauer (democrata-cristão) era privilegiar a integração daquela ao Ocidente. Durante 1950 houve uma troca de mensagens cada vez mais irritadas entre a União Soviética e as potências ocidentais, até que finalmente a proposta foi considerada definitivamente fora do jogo.
Noam Chomsky é citado como um dos que considera que Stalin provavelmente não estava blefando com sua proposta. É muito possível que não estivesse mesmo, pois um estado-tampão (como ficou sendo, mal comparando, o Uruguai entre o Brasil e a Argentina no século XIX...) neutro entre a órbita soviética e o ocidente seria melhor do que a permanente linha de confronto entre as duas Alemanhas. Stalin não deixava de ter razão, como muito bem demonstrou a crise de 1961, quando quase eclodiu um confronto armado entre blindados soviéticos e norte-americanos no ponto conhecido como “Checkpoint Charlie”, cujas conseqüências seriam terríveis em escala mundial).
Até hoje se debate se a adoção da proposta de Stalin teria sido melhor ou não. Vá se saber! Mais uma do camarada Koba!
A reunificação, portanto, seria um processo ainda em curso, e que levará anos e gerações. De qualquer modo, 3 de outubro é um dia de festa na Alemanha e particularmente em Berlim, a cidade destruída pela guerra e depois fraturada pelo Muro, esse grande equívoco histórico do regime comunista.
Seja como for, há um dado interessante a ser lembrado. A primeira Alemanha a se constituir legalmente foi a Ocidental. A criação da Alemanha Oriental foi uma reposta a este gesto “separatista”, ambas gestadas ainda na década de 40.
A primeira proposta séria de reunificação das Alemanhas partiu de quem? Do camarada Koba, aliás, Josef Stalin, imaginem! (Ossip Koba era o nome de guerra do camarada nos tempos de clandestinidade no Partido Comunista). Foi feita num documento chamado de “Nota de Março”, em 1952, através do chanceler Andrei Gromyko. Stain propunha às potências ocidentais a criação de uma só Alemanha, unificada e desmilitarizada.
Ao longo do ano a proposta acabou rejeitada, à luz da doutrina mantida, sobretudo, pelos Estados Unidos a partir de um documento identificado pela sigla NSCR 68 (National Security Council Report 68), de 1950 (ainda ao tempo de Truman como presidente), mas também à luz do medo atávico da França e da Inglaterra de uma Alemanha unida. Também colaborou para a rejeição a avaliação de que uma Alemanha unificada, desmilitarizada e neutra na Guerra Fria que já galopava pelo mundo acabaria sendo inevitavelmente atraída para a órbita soviética.
A proposta de Stalin colocou a política norte-americana diante de um dilema. A primeira face do dilema era a de que ele poderia estar fazendo uma mera jogada para a platéia mundial, e assim encurralar os Estados Unidos num canto do ringue, além de caracteriza-los como “inimigos eternos” da unidade alemã. Stalin propunha uma Alemanha, livre, com liberdade de imprensa, pluripartidarismo (!), eleições livres, liberdade religiosa, etc. Também propunha que um ano depois da adoção da proposta as potências vencedoras da Segunda Guerra (o Brasil também foi um vencedor da Segunda Guerra, mas não era uma potência...) deveriam retirar seus exércitos do território alemão. Além disso, a Alemanha deveria ter acesso irrestrito ao mercado internacional – e não deveria ter alianças militares.
A segunda face, porém, foi trazida à baila por James Warburg, banqueiro norte-americano nascido na Alemanha, num depoimento perante o senado em Washington, ainda no mês de março, logo após Gromyko ter entregado a famosa nota aos representantes das potências ocidentais. Warburg, que fora conselheiro de Roosevelt (embora se afastasse dele por causa de certas medidas do New Deal...) e era membro do Conselho de Relações Exteriores, afirmou que uma das dúvidas do governo norte-americano era a de que Stalin poderia muito bem não estar blefando ao fazer a proposta.
Isso poderia trazer muito mais incômodo para a posição norte-americana que, na época, à luz do NSCR 68, privilegiava a consolidação das posições militares ao invés da ação diplomática. A principal objeção norte-americana à proposta era a de que uma Alemanha livre deveria ter a liberdade de integrar a OTAN, cuja criação datava de 1949, e fora acelerada a partir de 1950 com a deflagração da Guerra da Coréia.
A proposta também não teve acolhida na Alemanha Ocidental (criada em maio de 1949, meses antes da criação da Alemanha Oriental, que foi uma retaliação), pois a orientação do então chanceler Konrad Adenauer (democrata-cristão) era privilegiar a integração daquela ao Ocidente. Durante 1950 houve uma troca de mensagens cada vez mais irritadas entre a União Soviética e as potências ocidentais, até que finalmente a proposta foi considerada definitivamente fora do jogo.
Noam Chomsky é citado como um dos que considera que Stalin provavelmente não estava blefando com sua proposta. É muito possível que não estivesse mesmo, pois um estado-tampão (como ficou sendo, mal comparando, o Uruguai entre o Brasil e a Argentina no século XIX...) neutro entre a órbita soviética e o ocidente seria melhor do que a permanente linha de confronto entre as duas Alemanhas. Stalin não deixava de ter razão, como muito bem demonstrou a crise de 1961, quando quase eclodiu um confronto armado entre blindados soviéticos e norte-americanos no ponto conhecido como “Checkpoint Charlie”, cujas conseqüências seriam terríveis em escala mundial).
Até hoje se debate se a adoção da proposta de Stalin teria sido melhor ou não. Vá se saber! Mais uma do camarada Koba!
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