Poucos leram as resoluções, mas o mundo inteiro já sabe que o PT estabeleceu cotas para a composição de suas instâncias. Homens e mulheres as comporão paritariamente (50% /50%); 20% dos integrantes deverão ter até 30 anos e 20% deverão ser afrodescendentes.De onde saíram esses percentuais é um enigma.
"Não vou dizer que foi ruim também não foi tão bom assim". O PT decidiu enfrentar um problema político através de questões organizativas. Criou uma espécie de federação baseada em determinada condição das pessoas e não no seu modo de ver o mundo. É um modo de tratar esses problema, não creio que seja o mais correto. Do ponto de vista político, coloco as coisas em termos simples: uma mulher que seja contra a descriminalização do aborto (e isso existe no PT e na sociedade), integrará a cota de mulheres, independente da visão política. Outros raciocínios mais complexos ou mais toscos poderão ser feitos. O que devemos refletir é sobre até que ponto determinadas condições (etnia, gênero, idade) condicionam o nosso modo de propor coisas ao mundo que nos envolve. Não existe na natureza humana uma relação direta entre as condições referidas e pensamento. Nossa relação com o mundo é mediada por conceitos que não nascem naturalmente no cérebro. Portanto é uma construção intelectual e cultural mais complexa, que não se resolve do ponto de vista matemático. A presença de mulheres, afrodescendentes e jovens nas direções partidárias é importante, mas não é o percentual que garante algo; é a reflexão política do conjunto do partido. Volto à questão inicial: uma política consistente para as questões da juventude, das mulheres e dos afrodescendentes é melhor modo de garantir a ampliação de sua presença nas direções partidárias, não o inverso. É como se o PT dissesse: "já garantimos a presença de vocês, agora, elaborem a política".
Outra questão, porque esses segmentos foram considerados e não outros? Por exemplo: por que não contemplar uma obrigatoriedade mínima de sindicalistas, sem-terra, participantes dos movimentos populares...? Para ser coerente, é obrigatório dizer que, mesmo esse tipo de cnstrução federativa das direões partidárias seria equivocado. Porém, é revelador o tipo de divisão que o PT estabelece entre os seus militantes e quais ele pretende privilegiar.
Como sempre, posso estar muito errado e o PT dê um salto em sua construção política. Porém, ao que tudo indica, na próxima eleição dos órgãos dirigentes, os articuladores de chapa terão que montar uma planilha eletrônica para construir suas nominatas. A exclusão de pessoas permanecerá, mas será em outro nível.
Vai que funciona.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado por sua opinião