Sempre que a Seleção Brasileira vai mal, chovem teses sociológicas para explicar o fenômeno. Sendo assim, vou fazer a minha.
Dunga pode não ter sido uma maravilha, mas levou o time longe. Ganhou todos os torneios que disputou, mas escorregou na Copa do Mundo, quando a Seleção perdeu para a Holanda no segundo tempo de partida. No primeiro tmepo, estava ganhando e jogando bem. Não sei o que aconteceu, mas o time teve um apagão, tomou uma virada e Dunga, que teve o descaramento de desafiar a Globo, acabou sendo tirado da Seleção como se fosse um incompetente. Não era.
O primeiro convidado para substituir Dunga foi Muricy (que eu acho o melhor técnico do Brasil). Muricy, alegando não querer romper o contrato com o Fluminense, não aceitou. Aí, apareceu o Mano Menezes. Mano é um bom técnico e fez coisas importantes nos times pelos quais passou, porém, é inegável que mídia (leia-se Rede Globo), superestimou os resultados contra adversários fracos. Mano não era aquilo tudo e acabou derrapando diante de adversários com maior qualidade.
O pior, na minha sempre singela opinião, é o modo como o técnico da Seleção aparece na propaganda de cerveja. Acho acintoso atletas e técnicos divulgarem bebida alcoólica, mas Mano superou todos os anteriores, associando a cerveja ao patrocínio de campos de futebol de várzea.
Em campo, a Seleção nunca convenceu. Ganso e Neymar, tão exigidos pela mídia na seleção do Dunga, pouco fizeram para justificar a idolatria. As justificativas são as de sempre: uns muito cansados, outros sem ritmo de jogo; não houve tempo para treinar, ou ficou-se muito tempo sem jogar juntos. Enfim, isso nunca muda. O fato é que cada um dos sujeitos escalados recebe muito dinheiro para fazer algo que a maioria dos brasileiros faz por prazer e, muitas vezes, pagando. O mínimo que se exige é que cumpram a sua função. Se isso não acontece, as vaias são justificadas, pois é a única coisa que a torcida pode fazer.
Gosto muito de futebol, mas acho que a mercantilização provoca exatamente os efeitos que estamos vendo. Os jogadores não são mais admirados pelo futebol que jogam. São produtos. São celebridades e garotos-propaganda que precisam vender. Para vender, precisam ter uma imagem positiva. Ou seja, mesmo que o sujeito não esteja jogando grande coisa, cada passe certo, ou cada chute que acerte no gol (mesmo que o goleiro defenda) é narrado como um feito extraordinário. Nos acostumamos a ver o jogador pela ótica de certos narradores e da mídia, que pode construir ou destruir uma reputação em segundos. O valor que cada um acrescenta aos produtos que divulga é o que conta. Daí, é justificável que se questione se a presença de um jogador na Seleção tem a ver com as suas condições técnicas, ou com a lista de produtos que o patrocina. Não se sabe o quanto a escalação da Seleção é uma opção da equipe técnica ou da equipe de marketing.
Quando estamos diante de jogadores excepcionais (Zico, Falcão, Sócrates, Ronaldo Nazário, Ronaldinho Gaúcho, Romário...) o lado essencialmente comercial do futebol acaba sendo vencido pela técnica superior desses atletas. Porém, em uma geração de jogadores apenas mediana, a marquetagem acaba enterrando o futebol. Atualmente, o sujeito que faz mais firulas é tido como craque, embora seja apenas o que chamam de "jogador diferenciado". Corremos o risco de ver bons jogadores se perderem, pela exigência imediata de sucesso diante da plateia do show que é o futebol, e ao não corresponderem, serem execrados.
Sei lá. Dauqi a pouco a Seleção toma jeito e todo mund muda de ideia.
Por enquanto, a Seleção do Mano tá que nem a Kayser. A Kayser tem nome de cerveja, garafa de cerveja, aparência de cerveja, mas não é uma boa cerveja. A Seleção do Mano tem a camiseta da Seleção, mas não é uma boa Seleção.
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