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Exposição do mais conhecido pintor colombiano reaviva trauma da violência
Alex Rodrigues Repórter Agência Brasil
Brasília – Uma caveira empunha a bandeira colombiana enquanto pisa sobre cinco corpos ensanguentados caídos sobre um campo verdejante. Assim, o mais importante e prestigiado artista plástico colombiano, Fernando Botero, retratou o que enxergava como sendo a paisagem de seu país, a Colômbia, em 2004.
Para o pintor e escultor, uma paisagem então pontilhada de corpos sem vida, baleados ou esquartejados, e ofuscada por sucessivas guerras e conflitos sociais que acompanham a história colombiana desde o processo de independência nacional e que se intensificam a partir do surgimento das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), em 1964.
Nascido em Medellín, em 1932, mas já há muito tempo dividindo seu tempo entre a Europa, os Estados Unidos e seu país, Botero se tornou mundialmente famoso por pintar e esculpir modelos gordos e roliços, desdenhando, assim, do moderno estereótipo de sensualidade e ironizando políticos, militares, religiosos e burocratas.
Entre os anos de 1994 e 2004, no entanto, o artista decidiu pintar os 36 desenhos, 25 telas a óleo e seis aquarelas atualmente expostos na mostra Dores da Colômbia, aberta até 1º de maio na galeria da Caixa Cultural, em Brasília. Nessas obras, Botero deixa um pouco de lado o viés bem-humorado de suas obras mais famosas para registrar aos sequestros, torturas, assassinatos e atentados que, ainda hoje, o mundo associa à Colômbia.
E que, além de milhares de mortos, obrigaram mais de 1,5 milhão de moradores de pequenas cidades e zonas rurais a abandonar tudo e migrar para as grandes cidades, fenômeno chamado de desplazamiento em espanhol.
"Meu país tem duas faces. A Colômbia é esse mundo amável que eu pinto sempre, mas também tem o rosto terrível da violência", comentou Botero, a respeito da opção temática que impressiona quem se depara com 67 obras que, desde a abertura da exposição, no dia 16, até o último domingo (27), já foram vistas por cerca de 3 mil pessoas.
Embora Botero tenha declarado em entrevistas não ser fácil transformar o drama em arte e que preferiria que os quadros agora expostos em Brasília não tivessem razão de existir, a impressão causada pelas obras é tão forte que, mesmo a mostra tendo obtido a classificação etária livre, seus organizadores desaconselham pais e escolas a levarem crianças pequenas para ver o que o pintor classificou como seu testemunho da dolorosa situação que o país enfrentou. “Em vista do drama que atinge a Colômbia, senti a obrigação de deixar um registro sobre um momento irracional de nossa história”, declarou o artista.
E é justamente o caráter de registro histórico dos quadros o que alguns colombianos que vivem no Brasil esperam que fique claro para quem visita a exposição. Sem questionar a qualidade artística das obras e dizendo-se orgulhosos por Botero ser colombiano, alguns de seus compatriotas destacam que o país já não é mais aquele retratado nas telas. Apesar de muitas pessoas sequestradas continuarem em poder das Farc e da luta entre guerrilheiros, paramilitares e Estado não ter chegado ao fim.
Procurados pela Agência Brasil, vários colombianos que vivem em Brasília se negaram a falar sobre o assunto. A própria embaixadora da Colômbia no Brasil, Maria Elvira Holguín, não retornou os telefonemas da reportagem. Entre os que aceitaram falar sobre como foram atingidos pelo conflito armado e o que pensam da atual situação colombiana, houve quem dissesse não ter intenção de ir à exposição.
Mesmo os que acreditam que os quadros, se exibidos sem a necessária contextualização, podem reforçar preconceitos e estereótipos, disseram entender que as obras são um registro artístico de um momento histórico que não pode ser negado. Contudo, não esconderam que, após tantos anos de más notícias, prefeririam ver seu país exibindo suas belezas e aspectos positivos.
"Esta exposição nos machuca porque mostra algo que aconteceu e que ainda não foi totalmente resolvido, mas que também já não é mais a realidade atual. Mas é também algo que não pode ser ignorado e de que não nos orgulhamos. O importante é que as pessoas que visitarem a exposição tenham discernimento e saibam que o próprio Botero pinta muitas coisas bonitas de nosso país. E, principalmente, que as coisas mudaram", afirmou a colombiana Johanna del Pilar, que há 12 anos vive em Brasília.
De Brasília, onde pode ser visitada de terça-feira a domingo, das 9h às 21h, a exposição segue para Curitiba. Na capital paranaense, as obras serão expostas de 18 de maio a 10 de julho, no Museu Oscar Niemeyer. Em seguida, a mostra ocupará os espaços da Caixa Cultural de São Paulo, do Rio de Janeiro e de Salvador, em datas que ainda serão definidas. A entrada é gratuita.
Edição: Lana Cristina
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