quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Em defesa da tradição, da família e da propriedade do pré-sal


Mônica Serra, que muita gente só foi conhecer um dia desses, andou pelos subúrbios brasileiros fazendo a campanha do marido e dizendo a evangélicos que Dilma “mata criancinhas”. Quem noticiou o fato foi o jornal O Estado de S. Paulo (que abriu voto para José Serra). Índio da Costa, vice na chapa demo-tucana, foi o companheiro de Mônica em sua missão evangelizadora entre os pobres. 
 
Indio da Costa, isto quem conta é o jornal O Dia, comprometeu-se com evangélicos a barrar a lei que proíbe discriminação contra homossexuais, o que nos leva a concluir que, no mínimo, o vice de Serra não vê problemas na discriminação contra homossexuais. Índio da Costa, que o Brasil também conheceu um dia desses e que ainda pode amanhecer presidente da república (como já aconteceu com vários vices), sugeriu, na tribuna do Congresso, a realização de um plebiscito sobre a pena da morte. O mais que sabemos de Índio é seu envolvimento em licitações não muito bem explicadas com fornecedores de merenda escolar (denuncia que virou CPI comandada por uma vereadora do PSBB carioca) e a notícia amplamente divulgada dele ter sido “o relator” do projeto ficha limpa, o que era mentira: o relator do projeto é o deputado petista José Eduardo Cardozo, da coordenação da campanha de Dilma.
 
Verônica Serra, a filha de José e Mônica, como informou exemplar reportagem de Leandro Fortes na revista Carta Capital, foi sócia de Verônica Dantas (sócia e irmã do banqueiro condenado por suborno de um policial federal e acusado de vários crimes em diferentes países, Daniel Dantas), numa empresa que violou o sigilo fiscal de milhões de brasileiros. (Para provar que a tal decidir.com entregava a mercadoria que vendia, a Folha publicou, em 2001, o cadastro de cheques sem fundo de alguns deputados). Apesar de trazer graves denúncias detalhadamente documentadas, a reportagem de capa da Carta Capital foi solenemente ignorada pela antiga imprensa e nunca desmentida por ninguém. Enquanto isso, a mais estapafúrdia ficção, como a do sujeito que achou “200 mil do tamiflu” na sua gaveta, ou a do receptador de conservante de presunto roubado que pleiteava 9 bilhões (é bilhões mesmo, com b) de financiamento no BNDES e não levou porque não pagou suborno, ganham quilômetros de manchetes e horas de acalorados debates. 
 
David Zylbersztajn foi o primeiro diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP), nomeado por FHC em 1998 e reconduzido ao cargo novamente em janeiro de 2000. Em 1999, ele liderou a quebra do monopólio da Petrobras na exploração do petróleo no Brasil. “Sua separação da esposa Ana Beatriz Cardoso, filha do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em maio de 2001, antecipou sua saída da chefia da ANP, embora seu mandato lhe garantisse a permanência no cargo até o final de 2005”. (da Wikipedia) Em 2002 fundou a empresa DZ Negócios com Energia, especializada em assessorar investidores interessados na indústria brasileira de petróleo. Agora, em 2010, ele defende, como declarou em nota assinada e publicada no blog de Josias de Souza, “a manutenção do sistema de concessões também para as futuras licitações, sejam elas no pré-sal, ou fora dele”, ou seja, o interesse dos seus clientes.
 
José Serra, perguntado por Dilma Rousseff no debate da Band sobre a questão do sistema de concessões do pré-sal, enrolou, como sempre faz, ensaiou acusações vagas, desfiou clichês decorados, sorriu e mudou de assunto, como lhe mandaram. Serra também enrolou e não respondeu nada sobre as declarações de sua esposa, nem sobre o sumiço dos 4 milhões de sua campanha, entregues a Paulo Souza, a quem Serra afirmou não conhecer: "Não sei quem é, nunca ouvi falar". Depois de ameaçado pelo próprio ("Não se larga um líder ferido na estrada a troco de nada, não cometam esse erro") e aparecer ao seu lado em várias fotos, Serra lembrou dele rapidinho, a ponto de defendê-lo.
 
Diz a Folha: “Serra diz que governo levou o tema aborto à campanha”.  Ao Terra, Serra diz que quem trouxe o assunto para a campanha foi "o povo": "Não fomos nós que introduzimos o tema e sim o povo". Enquanto isso, sua campanha na televisão - que não é feita nem pelo governo nem pelo povo - abre com imagens de uma grávida alisando a barriga, um feto num exame de ultrassom, uma trilha melosa e uma locução que, em voz grave, começa afirmando: “Ter um filho não é uma escolha”. A apelação segue por imagens de bebezinhos recém-nascidos e termina dizendo que é preciso “escolher o bem, escolher a vida” e conclui: “E para escolher o melhor para o Brasil, é Serra presidente”. Já vi muitas canalhices nas campanhas eleitorais brasileiras, pelo menos desde que Collor acusou Lula a desejar um aborto, não vi nada tão rasteiro. Collor tinha, ao menos, a coragem de não terceirizar sua canalhice.
 
José Serra, hoje um assumido representante da mais tacanha e grotesca extrema-direita religiosa, incluindo a TFP e nazipastores de várias religiões, posa de crente enquanto sua turma faz contas de quanto poderia ganhar com o petróleo, que por enquanto é nosso. O pré-sal bem vale uma missa.

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