Por Antônio Ozaí da Silva, de Maringá, Paraná,
publicado no Via Política.
Se tudo é socialismo, então, o que é socialismo? Breve crônica de um debate com representantes dos partidos de esquerda no Brasil, em que a bela Nicole Kidman não estava presente.
Poderia ter ficado em casa e acompanhado a espetacular vitória do Palmeiras sobre o time baiano. Poderia ter ido ao CINEUEM assistir ao filme Os outros – só ver a atuação da bela Nicole Kidman já teria valido a pena. Ainda havia a opção da palestra “Veredas marxistas no pensamento social brasileiro: Caio Prado Jr. e o Grupo de Estudos do Capital (USP)”. Também podia ter permanecido no lar e dar sequência às leituras, navegar pela rede, assistir a um filme no computador, ao programa político na TV, ou, simplesmente, gozar o ócio na esperança de que se revelasse criativo.
Mas decidi ir ao debate “Socialismo em perspectiva”, promovido pelo Instituto Paranaense de Estudos Geográficos, Econômicos, Sociais e Políticos (Ipegesp), com a participação de representantes do PT, PV, PCB, PSOL e PSTU – o PC do B foi convidado, mas não compareceu. Ouvi atentamente a fala dos convidados e fiz anotações. Salvo o representante do PV, os outros são velhos conhecidos e mantemos relações acadêmicas e fraternais. Procurei abstrair este fato e analisar do ponto de vista meramente político. Fiz algumas perguntas.
O candidato à presidência pelo PCB afirmou que transformação neste país só mesmo com revolução. Diante disso, perguntei aos companheiros do PCB, PSOL e PSTU: por que participar do processo eleitoral? Se a democracia é burguesa, a mídia exclui as candidaturas da esquerda e a disputa não se dá em condições iguais, não seria mais eficaz fazer campanha crítica pelo voto nulo? Se estes partidos não têm chances eleitorais e, inclusive, nem conseguem se unir e apresentar candidato único, faz diferença votar nulo ou num deles?
Foi interessante a defesa do representante do PSOL sobre as particularidades do socialismo em cada país. A seu ver, devemos respeitar o socialismo chinês, o cubano etc., pois cada povo constroi seu próprio caminho a partir das suas condições e culturas. Fiquei a pensar se o PSOL teria alguma chance de existir na China. Pareceu-me um relativismo que desarma a crítica aos governos que se autodefinem comunistas. Se tudo é socialismo, então, o que é socialismo?
Lembrei-me das mulheres iranianas condenadas a morrer por apedrejamento ou enforcadas. Devemos simplesmente aceitar por respeito à cultura daquele país? Fui lembrado de que existe a pena de morte nos Estados Unidos e que a forma de punição é definida por cada povo a partir dos seus valores e etc. Evitei redarguir, mas poderia argumentar que também sou contra a pena de morte no Irã, aqui ou nos Estados Unidos. A dualidade ocidente versus oriente arrisca-se ao maniqueísmo. Tanto cá quanto lá, há costumes e valores passíveis da crítica.
A certa altura, o representante do PSTU disse: “Nós, enquanto classe trabalhadora, classe operária…”. Pensei: mas quem concedeu o mandato para se falar em nome da “classe”. Seu discurso reafirma o partido de vanguarda. Questionei e ouvi o que já sabia: a teorização sobre o papel revolucionário do partido, a necessidade da vanguarda, a tática da política eleitoral, a referência a Esquerdismo, doença infantil do comunismo, de Lenin etc. Surpreso, vi-o devolver a “provocação”: eu seria ainda mais “vanguardista”. A resposta me fez pensar sobre a minha postura política. Longe de mim, porém, querer exercer qualquer papel de vanguarda. O meu “pecado” talvez seja exatamente o oposto…
Sobre o PT, compreendo que seu representante se considere socialista e que o partido tenha resoluções sobre o tema. Não se pode analisar apenas pelo que dizem de si mesmos. Por que será, porém, que os socialistas permanecem no PT? Quanto ao discurso do representante do PV, penso que a frase do Plínio (PSOL) à Marina (PV) resume tudo… “Ecocapitalista”!
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